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Em março de 2018, após fortes chuvas acompanhadas de tremores, veio à tona o afundamento do solo e aparecimento de fissuras nas casas dos moradores do bairro de Pinheiro, na cidade de Maceió- AL. Em seguida, as mesmas consequências atingiram outros bairros da região: Mutange, Bebedouro, Bom parto e Farol.
O problema é fruto de um acidente ambiental provocado pela extração de sal-gema, obra realizada pela empresa Braskem, conforme aponta o Serviço Geológico do Brasil.
Apesar de recente, as consequências do impacto geológico possuem raízes profundas quando contadas pelos antigos moradores da região que conversaram com o estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e autor desta exposição, Carlos Lopes.
As fotografias desta exposição são um convite a nós, professores e professoras de Humanidades, a nos atentarmos para qual o significado da territorialidade e da memória de uma comunidade urbana, como é possível discutir os laços sociais, seus aspectos e impactos culturais, quais relações ambientais estamos estabelecendo com o território que ocupamos, como as lembranças afetivas com esse espaço significam também a identidade de quem somos.
O que afunda
Não é uma casa
Paredes
Azulejos
Janelas tampadas com cimento
Portas fechadas
Pela última vez
O que afunda
Não é uma escola
Um hospital
Os campos de treinos
Do CSA
Tijolos infinitos
Como lágrimas de sal [...]
Não é uma casa
Paredes
Azulejos
Janelas tampadas com cimento
Portas fechadas
Pela última vez
O que afunda
Não é uma escola
Um hospital
Os campos de treinos
Do CSA
Tijolos infinitos
Como lágrimas de sal [...]
[...]
O que afunda
É a luz
Do quarto das crianças
As flores que ficaram
Os gatos perdidos
No silêncio do bairro
O que afunda
Somos nós
Um tremor de angústia
No fio da navalha
Nossas vidas
Nas cavernas subterrâneas
Uma larga rachadura
No subsolo da alma.
Resistência 1
Poemas para resistir: o caso Braskem
livro de Carlos Pronzato
O que afunda
É a luz
Do quarto das crianças
As flores que ficaram
Os gatos perdidos
No silêncio do bairro
O que afunda
Somos nós
Um tremor de angústia
No fio da navalha
Nossas vidas
Nas cavernas subterrâneas
Uma larga rachadura
No subsolo da alma.
Resistência 1
Poemas para resistir: o caso Braskem
livro de Carlos Pronzato
A vida pulsava, até que veio o tremor da mineração e as primeiras rachaduras.
Já não tenho nada do que tinha, somente lágrimas que andam como gatos perdidos entre os escombros.
O presente é uma corda amarrada no pescoço, uma pedra que me afunda nas cavernas de
sal-gema.
Dano emocional
tem preço?
Não tem, isso poderia ter sido evitado!
Deixar o lar, retirar o que é possível carregar,
janelas, portas, levando tudo de dentro de casa,
mas sem casa. Vê-la se tornar um imóvel fechado, imóvel que representa perigo,
enquanto sobem paredes para ninguém voltar.
Se tremer novamente
a rota é fugir
o lugar seguro
é sair dali.
A dor é imensa, mas ninguém nos tirará nossas lembranças.
Uma ferida que não cicatriza
Um corpo disforme de casas sem teto que sangram.
Chá de ruínas.
Olho em torno, não há ninguém no bairro fantasma.
Braskem me diz o quanto vale o sal de nossas lágrimas?
A mineração fechou as "portas do céu".
Pinheiro minado, povo abandonado.
Já não tenho mãos para levantar paredes, olhos para descrever as cores do antigo jardim,
pés descalços para andar sobre o frescor do pátio.
O clamor de milhares de pessoas expulsas de suas casas, era também o meu.
Além da lente:
não estive apenas fotografando, entre o intervalo de ajudar a retirar portas e janelas de algumas das casas, me perguntava para onde iria tudo o que não ficava.
E a lembrança se apaga.
Aqui fomos felizes.
Família Torres, 58 anos.
Como os velhos almirantes, alguns preferiam ser os últimos em abandonar o barco e afundar na lei dos mares, numa casa vazia, num bairro abandonado, rodeado de um oceano de silêncio e descaso.
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