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Arte digital e vícios modernos

Coletivo holandês cria releitura da obra O Jardim das Delícias Terrenas e nos faz refletir sobre a sociedade que construímos.


Por Viviane Toraci*


Público observando a obra digital SPECULUM, do coletivo holandês SMACK, em exposição no Matadero Madrid. Foto: Viviane Toraci.

No começo de fevereiro, publicamos um post falando deste meu momento de vivências na cidade de Madri e a vontade de compartilhar com vocês o que estou vendo e refletindo por aqui. Então este segundo post é fruto das inquietações provocadas pela exposição “El Jardín de las Delícias”, que acontece no Matadero Madrid (Home | Matadero Madrid), espaço cultural municipal.


A proposta da exposição é revisitar e redescobrir a partir de meios e cosmovisões contemporâneas a obra original “O Jardim das Delícias Terrenas” (1490-1500), de El Bosco (Países Baixos, 1550-1516). Esta obra é composta por três partes (forma um tríptico) e traz uma mensagem religiosa, apresentando na imagem do tríptico fechado o terceiro dia da Criação do mundo, quando foram separadas as águas da terra e foi criado o Paraíso na Terra, imagem acompanhada do texto em latim “Pois ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo surgiu” (Salmos 33, 9 e 148,5). O tríptico aberto é composto pelas representações do Paraíso (painel esquerdo), o Paraíso enganoso dos sentidos (painel central) e o Inferno (painel direito). O Pecado é o tema comum entre os painéis, o que destinaria a humanidade ao inferno. A obra original está em exposição no Museu do Prado, em Madri, e pode ser vista com aproximações digitais neste link (Tríptico del Jardín de las delicias - Colección - Museo Nacional del Prado (museodelprado.es)


A exposição (El jardín de las delicias | Matadero Madrid) é formada por obras de vários artistas, reunindo animação digital, criação sonora, inteligência artificial, pintura e cerâmica. Aqui, vamos nos ater a uma obra em específico: SPECULUM, do coletivo holandês SMACK. O folheto da exposição informa (tradução livre da autora): “Em exibição no Matadero Madrid em três telas de LED com uma largura total de vinte e um metros, SPECULUM situa o expectador diante de uma impiedosa representação de nossa realidade. Em Eden, os famosos crescem como se fossem plantas enraizadas em um pinheiro artificial; Paradise (Paraíso) é un lugar habitado por personagens solitários obcecados com sua própria imagem, enquanto o Hell (Inferno) é um horripilante cenário de torturas personalizadas”. Assim como a obra de El Bosco, cada detalhe possibilita inúmeras reflexões, conexões com nossas realidades, discussões acerca de uma humanidade que valoriza o prazer individual, a autoimagem, a exposição nas mídias sociais.


Desta explosão de imagens presente neste enorme painel digital, os artistas selecionaram dez personagens que povoam a obra e as colocaram em destaque sob o título SPECULUM: 10 Characters. No Matadero, estavam expostas 6 telas destes personagens, convidando o público para um diálogo sobre quem somos e que Sociedade construímos.



Como arte digital, estas imagens não são estáticas! São pequenos vídeos expostos em loop, ou seja, ficam se repetindo continuamente. Então, além da força comunicativa da imagem estática, agregue aqui a força do movimento. Sinta o resultado:




Eu confesso que sempre tenho receio de fazer interpretações de obras de arte e, mais ainda, de registrá-las em texto. Afinal, acredito que a fruição depende em boa parte de quem está olhando, podendo levar a diversas conexões com seu momento de vida. Aqui, como falamos sobre o uso das imagens como recurso pedagógico para o ensino de Humanidades na escola, é possível pensar que também elas possam nos levar a outros tipos de olhares a partir dos objetivos de cada docente. Então não esperem que eu discorra uma análise sobre cada uma destas personagens. Prefiro que você observe, faça suas próprias conexões e se anime a compartilhar esta experiência fruitiva com seus estudantes.


*Viviane Toraci é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do multiHlab - Laboratório Multisuários em Humanidades.


 

Para citar esse texto:


TORACI, Viviane. Arte digital e vícios modernos, 2022. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades

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