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Você também sente que o sinal está entre nós?

Exposição fotográfica virtual pode instigar professores e estudantes a pesquisarem sobre as relações entre nossos corpos e os sinais emitidos pelo complexo de máquinas e linguagens computacionais.



Por Viviane Toraci


Sou somente eu ou você também já parou para pensar como uma mensagem sai do meu celular, atravessa oceanos e, em questão de milésimos de segundo, chega no aparelho da minha amiga. A transmissão começa pelo ar, afinal estou usando conexão Wi-Fi ou 4G, dividida em pacotes de dados que percorrem antenas, satélites e mais uma infinidade de tecnologias que para nós não são aparentes nem transparentes. Quais e quantos caminhos foram necessários para completar esta corrida de um lado para o outro? Quem são os atores envolvidos neste intenso fluxo de informações e quais as relações de poder construídas em meio a profusão de cabos, algoritmos e dados? Sinais elétricos sobrevoam nossas cabeças e suas finalidades afetam nossos corpos. Não estamos falando de questões metafísicas, mas de materialidades e subjetividades que integram nossos cotidianos a partir do uso massivo das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação.


Essas são possíveis reflexões levantadas pela exposição fotográfica virtual “O sinal está entre nós”, lançada em 8 de março de 2023 aqui no imageH. A concepção artística, produção de imagens e textos, criação da trilha sonora original e o projeto expositivo são da equipe multiHlab, que em mais esse projeto coletivo traz um conteúdo capaz de suscitar interessantes discussões em sala de aula, aproximando professores e estudantes de temas como cultura digital, globalização das comunicações, relações de poder em ambientes interconectados, capitalismo de vigilância.



Esse texto traz uma proposta de mediação pedagógica para professores de Humanidades interessados em realizar uma visita virtual à exposição junto com seus estudantes. O primeiro passo é você, professor e professora, em um raro momento de calma e silêncio ao seu redor (sabemos o quanto eles podem ser raros), visitar a exposição. Para uma maior imersão, use fones de ouvido e deixe a trilha sonora envolver você. Com calma, vá percorrendo o olhar em cada foto e seus títulos, deixando-se conduzir pelos textos, que te farão descer a barra de rolagem. Dedique o tempo que precisar para fruir, primeiro sentir e permitir que venham as memórias da sua própria experiência com as redes digitais. Será que você também vai sentir que o sinal está entre nós?


Gostou da experiência estética? A arte tem esse poder, de provocar sensações antes das reflexões. Perceba se as suas condições para visualização da exposição virtual foram propícias para a fruição estética e busque proporcionar as melhores condições também para seus estudantes. A visualização em telas maiores, como em computador ou tablet, são melhores. Mas a exposição conta com uma versão mobile e funciona também na tela do celular, de preferência, com uso de fones de ouvido.


Após experimentar esteticamente a exposição, é hora de refletir, trazendo para campo seus conhecimentos científicos, identificando potenciais temas para o diálogo. De nossa parte, queremos aportar um olhar sociológico. Trabalhamos a partir dos conceitos de estranhamento e desnaturalização dos fenômenos sociais. O processo de estranhamento pode ser iniciado trazendo perguntas mobilizadoras presentes no texto da exposição:


  • Como uma mensagem sai do meu celular e chega no seu?

  • Quem faz as escolhas?

  • Quem afeta e como somos afetados?

  • As telas são proteções?


A ideia aqui não é ter uma única resposta, mas abrir o diálogo para a partir dos conhecimentos dos estudantes ampliar o repertório científico trazendo novos argumentos embasados em conhecimentos de diversas áreas como Ciências Sociais, Telecomunicações, Psicologia Social. A busca por respostas abre passagem para a desnaturalização, ou seja, a compreensão que as soluções não “surgem”, elas são criadas, decididas, comunicadas por pessoas. Afinal, quem faz as escolhas? Nascem daí questionamentos éticos de nossos tempos, que envolvem o acesso a informações pessoais, o papel dos algoritmos na indução de comportamentos, as escolhas que fazemos nas redes sociais.


A associação entre imagem e título em cada foto também abre espaço para condução de reflexões que poderão ser auxiliadas pela realização de pesquisas pelos estudantes. Por exemplo: as fotos “Impulso” e “Wi-Fi” podem provocar pesquisas sobre as infraestruturas necessárias para a conexão em rede, na busca por resposta para a pergunta “Como funcionam os sistemas digitais de transmissão?”. Discussões técnicas podem evoluir para debates sociológicos, abordando, por exemplo, o quanto estamos enredados pelas tecnologias, que modificam nossa percepção de tempo e espaço e influenciam nossas sociabilidades, alterando nossas formas de estar no mundo.



A imagem “Nuvem” e o texto que a circunda provoca discussões sobre o que escolhemos publicar na internet, cientes que as memórias computacionais poderão manter vivas lembranças que depois exigimos serem esquecidas. Este ponto pode se conectar com a imagem “Cyberbully”, levantando as implicações éticas e sociais da publicação de conteúdos de e sobre terceiros na internet. Essas discussões estão sendo feitas no âmbito acadêmico, reunindo estudiosos dos campos do Direito, da Sociologia, da Filosofia, da Psicologia. Quais pontos são levantados pelas diferentes áreas, quais argumentos os estudantes podem encontrar a partir de pesquisas publicadas na internet? Auxiliar a busca por informações confiáveis na rede é hoje uma grande contribuição da educação formal no papel de desenvolver a Cultura Científica de nossos jovens.


Cyberbully


Ao mesmo tempo que nos sentimos amados pelos “Seguidores”, podemos sofrer a perseguição de “Stalkers” ou sermos vítimas da “Cultura do cancelamento”. Quem afeta e como somos afetados? Destrinchar relações de poder a partir da identificação dos atores envolvidos no fenômeno social e as estruturas que os sustentam podem trazer para a sala de aula temas como neoliberalismo, patriarcado e vigilância.


Agora você pode estar se perguntando: mas como eu vou conseguir dominar todos esses temas para levar para minha sala de aula? Minha resposta é: não vai! Você pode construir conhecimentos coletivos junto com seus estudantes, instigando-os a desenvolver uma metodologia científica para a busca, seleção e apresentação dos argumentos. Assim eles poderão aprender que você não sabe de tudo, mas que estamos dispostos a aprender juntos.


*Viviane Toraci é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do multiHlab - Laboratório Multisuários em Humanidades.



 

Para citar esse texto:


TORACI, Viviane. Você também sente que o sinal está entre nós?, 2023. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades

 

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