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O Dilema das Redes

Sob a luz de nossas interações com os novos formatos de tecnologias digitais, o documentário elucida uma discussão entre as empresas tecnológicas e a convivência dos indivíduos com os ambientes virtuais.



Por Bruno Pinangé*


O documentário O Dilema das Redes, lançado em 2020 pela Netflix, mescla relatos entre diretores e ex-funcionários das chamadas empresas Big Tech unindo as novas dinâmicas que o uso das redes sociais e dos aparelhos eletrônicos impõem a partir da vivência de uma família fictícia que retratam os desafios em se relacionar com esses ambientes virtuais.


O uso intensivo das mídias sociais tem gerado dúvidas e receios quanto ao seu poder de influência em nossas ações. Seria o modo como interagimos com as novas tecnologias que impulsionam o nosso comportamento? As formas que as empresas de tecnologia utilizam para prender a atenção de seus usuários construindo interfaces que não apenas estão focadas na experiência de nossa utilização, mas também o quanto aceitamos ser expostos a anúncios publicitários durante o tempo que dedicamos às telas.


Os possíveis malefícios que a interação com as redes sociais traz à sociedade vão se intercalando entre depoimentos e cenas de uma família de personagens que reflete e analisa quais os limites e as reais consequências da utilização desenfreada das redes sociais. Essa representação da família é bem impactante, a ponto de em determinada cena, a matriarca resolve colocar os aparelhos móveis dos integrantes da família dentro de um cofre para que sem o acesso a aparelhos eletrônicos a família estivesse concentrada em interagir e conversar dedicando tempo hábil ao convívio familiar. Porém, essa estratégia não foi bem sucedida. Uma das filhas se levanta e quebra o cofre utilizado pela mãe apenas para poder reaver o seu celular. Em outra cena, vemos uma das personagens editando uma foto sua para que fique mais próximo do que é socialmente considerado bonito ou padronizado, mostrando claramente como as redes sociais conseguem afetar as relações com os nossos corpos e consequentemente nossa autoestima.

Se hoje, um pequeno dispositivo móvel é capaz de condensar tantas informações pessoais e particulares sobre nós mesmos, sabendo quando acordamos, quando vamos dormir, o que gostamos e não gostamos, precisamos assumir que somos nós mesmos que entregamos o controle das informações de nossas vidas para grandes empresas de tecnologia.


Vivemos então o chamado Capitalismo de Vigilância. O conceito foi popularizado pela professora Shoshana Zuboff, que explica a nova forma de capitalismo em que estamos inseridos. Agora, a principal “moeda” de troca são os dados dos usuários, adquiridos a partir dessa intensa vigilância na interação com os aplicativos. A pesquisadora também afirma que a internet já foi um ambiente gentil com o mundo real, mas se tornou um espaço onde o capitalismo se desenvolve mais e mais, a partir da extração de dados e a consequente concentração de poder e riquezas, já que os dados se tornaram moeda.


Propor o diálogo, em sala de aula, entre as discussões trazidas pelo documentário e os conteúdos das Humanidades na escola, em específico a Sociologia, com os estudantes pode começar a partir de uma pergunta geradora: Para criar um perfil numa rede social é preciso concordar com os termos da plataforma. Você sabe com o que está concordando? Quais as vantagens e desvantagens em concordar publicar suas informações nas redes sociais? Pense nas vantagens e desvantagens para você e para a empresa que oferece o serviço. As perguntas geradoras poderão trazer à tona diversos temas para discussão, como pós verdades e fake-news, que são abordados na produção e que são temas muito atuais na nossa sociedade, e principalmente no Brasil. Também é interessante sugerir um debate com os estudantes sobre comportamento nas redes, inserindo a reflexão sobre suas condutas nos ambientes digitais.


É interessante repensar como estamos nos relacionando com as redes e quais as possibilidades de estabelecer um uso saudável delas. Tendo em vista que esse relacionamento se tornou um caminho presente em nossas vidas de forma tão facilmente naturalizada, quase como se fizesse parte de nossas vidas desde sempre e principalmente no cotidiano dos jovens, que já nascem inseridos no mundo digital e ficam conectados boa parte do tempo de suas vidas. A relação da juventude com as redes sociais põe em xeque a máxima necessidade de sair da liminaridade do virtual e do real e assumir uma posição de cautela, para que não sejamos reféns dos aparelhos eletrônicos e vivermos vidas virtuais num mundo real.


O documentário pode ser utilizado em turmas a partir da sétima série do ensino fundamental, podendo ser agregadas ferramentas lúdicas como jogos com imagens, caça palavras, jogo da memória ou até uma redação com debate sobre o que foi assistido. Por ter classificação etária de 12 anos, o documentário pode ser assistido em sala de aula por completo.


O documentário possui classificação 12 anos e está disponível na Netflix.



*Bruno Lucas Azevedo Amorim Pinangé é estudante de Licenciatura em Ciências Sociais e pesquisador bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) Ciências Sociais.



Para citar esse texto:


Pinangé, Bruno. Na sala de aula: Pixo. 2022. ImageH. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades


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