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O ensino da História da África e da Diáspora através dos autorretratos do senegalês Omar Victor Diop


Os autorretratos produzidos pelo fotógrafo africano constituem uma fonte visual extremamente rica de biografias e histórias de luta contra a opressão de populações negras em diferentes partes do mundo um material indispensável para o ensino de história e cultura africanas e afrodiaspóricas em sala de aula.


Por Cibele Barbosa*

Em um artigo recente, escrevi sobre os trabalhos do fotógrafo senegalês Omar Victor Diop para tratar de duas séries fotográficas deste artista africano. Nas fotografias das séries Liberty e Diáspora, de fácil acesso online, encontramos um rico acervo visual que certamente poderá inspirar professores a trabalhar temas e personagens da história da África e da Diáspora.


Omar Diop realizou pesquisas em museus e em acervos de várias partes do mundo. Nesses lugares, ele pôde encontrar pinturas, gravuras e fotografias de personagens africanos ou afrodescendentes que exerceram papel de destaque ou liderança nas sociedades em que viveram e que por essa razão foram retratados por pintores ou fotógrafos ao longo dos tempos.


Na série Diáspora (Diaspora, 2014), a partir desse levantamento histórico, Diop nos apresenta um conjunto de autorretratos em que incorpora esses personagens, mimetizando poses e cenários. O diferencial é que ele acrescenta ou substitui objetos de modo a estabelecer pontes com celebridades negras na contemporaneidade, a exemplo dos jogadores de futebol:


Quando você olha para a forma como a realeza do futebol africano é vista na Europa, há uma mistura muito interessante de glória, adoração ao herói e exclusão. De vez em quando, você ouve gritos racistas ou cascas de banana lançadas no campo e toda a ilusão de integração é destruída da maneira mais brutal. É esse tipo de paradoxo que estou investigando no trabalho (Entrevista concedida por Diop em 2015, citada por BARBOSA, 2021).

Para este texto, selecionei como exemplo um dos personagens representados por Diop: o soldado negro e liberto, Henrique Dias ( -1662). A imagem de Henrique Dias que chamou atenção de Diop em sua pesquisa é uma pintura sem autoria existente no Museu do Estado de Pernambuco. Ela serviu como parâmetro para o autorretrato.


Omar Victor Diop. Henrique Dias (-1662). Um dos líderes da Restauração Pernambucana.

Henrique Dias viveu em Pernambuco e se destacou por sua contribuição na luta pela expulsão dos holandeses, chegando a comandar no ano de 1640 mais de 300 soldados negros, entre africanos (negros angolas, ardas e minas) e afro-brasileiros libertos. Em razão de seus feitos pela coroa luso-espanhola, foi nomeado governador dos negros e pardos de Pernambuco.


Na mostra Liberdade (Liberty, 2016), Diop também utiliza o autorretrato para elaborar uma cronologia de protestos negros contra a escravidão, o colonialismo, o racismo etc., tanto em África quanto nas Américas.


A obra de Diop em sala de aula


Para os professores, uma grande vantagem em trabalhar a obra de Diop com os alunos é o fato de suas fotografias proporcionarem aproximações entre história da África e espaços afrodiaspóricos tanto nas Américas quanto na Ásia. Ou seja, a partir das imagens de Diop, é possível pensar conteúdos conectados. Além disso, elas possibilitam acesso a histórias africanas e histórias negras transnacionais de luta pela liberdade que, em muitos casos, são pouco conhecidas dos brasileiros a exemplo da história das mulheres Igbo, na Nigéria que, em 1929, protagonizaram um movimento contra os colonialistas britânicos.


Omar Victor Diop. Representação da Guerra das Mulheres Igbo, na Nigéria, em 1929. Modelo: Dija Boye.

Por meio das imagens disponibilizadas no site do fotógrafo, professores podem solicitar que estudantes pesquisem sobre as biografias retratadas e encontrem as imagens originais (pinturas, gravuras, fotografias) que serviram de base para o trabalho de Diop. Também podem pedir para que produzam autorretratos, selecionando histórias e personagens que lutaram pela liberdade tanto nos dias de hoje quanto ao longo da História. Jogos da memória podem ser confeccionados com as imagens e as biografias de personagens africanos e afrodiaspóricos apresentados por Diop. Estudantes também poderão sugerir outros personagens para compor as séries do fotógrafo africano e assim por diante.


Que tal começar a colocar essas e outras ideias em prática?


Omar Victor Diop. Levante de Soweto, na África do Sul, em 1976.

*Cibele Barbosa é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do imageH.

 

Para citar esse texto:


BARBOSA, Cibele. O ensino de História da África e da Diáspora através dos autorretratos do senegalês Omar Victor Diop. ImageH, 2022. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades.

 

Para saber mais:


BARBOSA, Cibele. "Fotografias de estúdio na África e as releituras contemporâneas de Omar Victor Diop." Capoeira – Revista de Humanidades e Letras, vol.7 , nº. 2, 2021. https://www.academia.edu/68349406/FOTOGRAFIAS_DE_EST%C3%9ADIO_NA_%C3%81FRICA_E_AS_RELEITURAS_CONTEMPOR%C3%82NEAS_DE_OMAR_VICTOR_DIOP




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