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Pokémon Go e o Ensino de História

Pokémon Go e o ensino de história: como o jogo pode ajudar a construir conceitos sobre patrimônio cultural e percepções sobre a construção da cidade.



Por Gabriela Soares

O jogo Pokémon Go espelhado na tela do celular, disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/pok%C3%A9mon-pok%C3%A9mon-vai-monstro-de-bolso-1543353/


De repente, não mais que de repente, qualquer pessoa poderia ser um Ash Ketchum. Milhares de fãs se transformaram no treinador de Pokémon mais famoso do mundo quando a distribuidora de jogos Nintendo em colaboração com a Niantic lançou o jogo Pokémon Go. O ano era 2016 e jogadores do mundo inteiro batalhavam em seus postos, assim como saiam à procura de Bulbasaurs, Charmanders, Ivyssauros. O criador do jogo, John Hanke, passou 20 anos desenvolvendo o imersivo Pokémon Go. Durante esse tempo, Hanke estudou e levantou dados específicos de geolocalização e como eles poderiam servir para seu futuro projeto, forneceu imagens para o Google Earth e em 2014, em parceria com a empresa, espalhou alguns pokémons em áreas do Earth. Era o início do que estava por vir.


O Pokémon Go foi uma junção de dados recolhidos no antigo jogo criado, também, por Hanke e a Niantic, o Ingress. A grande inovação do jogo feito para smartphones foi o uso da Realidade Aumentada (RA), diferente da Realidade Virtual (RV). A RA se utiliza de dispositivos reais para projetar uma experiência virtual. Há quatro componentes básicos que auxiliam seu desenvolvimento: as câmeras e lentes, sensores, computação e, claro, a inteligência artificial (AI). Dessa forma, os jogadores do Pokémon Go vivenciaram a cidade sob outro aspecto, diante de uma perspectiva digital. O game levou uma multidão a espaços históricos e culturais como museus, adentrando inclusive nesses ambientes, como aconteceu no MoMa (The Museum of Modern Art de New York). Mas como Pokémon Go se relaciona ao ensino de História?



Pokémon na cidade, disponível em: https://pixabay.com/pt/photos/pok%C3%A9mon-cidade-moderno-urbano-5185124/


O game traz como cenário a cidade. A urbe é uma metamorfose de conceitos que nos apresentam variedades em suas definições. Cada cidade tem sua história e suas contradições, que podem ser narradas em vestígios e apresentadas na sua arquitetura. É um universo em transmutação e seus habitantes vivem em constantes embates e disputas. A cidade também é cerne de desigualdades, físicas e sociais. Experimentá-la torna-se uma ação reflexiva sobre os usos desses espaços. Quando um(a) jovem aciona seu aplicativo do Pokémon Go na cidade do Recife e é transportado para uma pokéstops na Rua do Bom Jesus, ou no Parque das Esculturas de Brennand, ou na frente da antiga sede London & River Plate Bank. O deslocamento permite o encontro com outras narrativas tão semelhantes quanto distantes desses espaços.

A grande maioria desses espaços estão catalogados como patrimônios culturais. Elencar quais monumentos devem ser preservados é uma discussão que perpassa pelo ensino de História. Por que em determinada região e por qual motivo torna-se um lugar consagrado pelo patrimônio? Discutir essas questões podem estar alinhadas a essa cibercultura vivida pelos nativos digitais do século XXI. Um estudo realizado pelos professores Arnaldo Martin Szlachta e Márcia Elisa Teté Ramos descreveu a percepção narrativa de estudantes do Ensino Médio em uma escola pública de Maringá a partir do uso do Pokémon Go.



Pokestops mapeados por dois gamers Marcos Conceição e Tiago Conceição. Imagem retirada do Jornal do Comércio https://jc.ne10.uol.com.br/blogs/o-viral/2016/08/04/pokemon-go-saiba-onde-ficam-localizados-todos-os-pokestops-de-nove-cidades-no-brasil/index.html


A proposta de atividade foi realizada com estudantes do 2º ano do E.M. Com autorização tanto da gestão escolar quanto dos responsáveis, esses estudantes deveriam ir até os pokéstops da cidade e relatar os lugares que estavam no game e o que eles pensavam sobre esses espaços. Dentro do planejamento didático, os professores propõem uma primeira discussão sobre patrimônio cultural e seus significados. Examinando que o patrimônio cultural-histórico é fruto de discursos que o atravessam e o identificam como algo a ser preservado, podendo ser formal ou não formal, consagrado ou não consagrado. Podendo contestar espaços, objetos, oralidades que foram marginalizados nas escolhas. Além de perceber como a historiografia tradicional fundamenta suas narrativas e elege seus monumentos. O estudante pode refletir outras histórias possíveis.

O jogo pode ser acionado para descobrir a cidade e suas nuances, principalmente, o que está intrínseco nas linhas da geolocalização. No contexto em que o Pokemón Go tornou-se uma febre, usuários questionaram os pontos demarcados nas cidades, assim percebendo que localizações no subúrbio não apareciam como opções para os Pokéstops. Tal incômodo partiu dos jovens jogadores dos bairros negros dos EUA. Junto com o movimento Black Lives Matter acentuaram a crítica a falta de pokémons nessas regiões e como esse deslocamento de um jovem negro poderia ser inseguro, pois acessaria espaços no qual a violência policial é risco a vida dessa população. No Brasil, essa disparidade foi vista a partir da produção de um mapa comparativo entre o Capão Redondo (periferia de São Paulo) e a Avenida Paulista, conhecida por ser o centro financeiro da metrópole.

Mapa dos Pokéstops da Avenida Paulista, retirado do site: mapapokemongo.com



Mapa dos Pokéstops do Capão Redondo, retirado do site: mapapokemongo.com


As possibilidades de uso do game requer uma consciência crítica por parte dos docentes, para que a condução da aula que recorra a essas ferramentas não passe apenas a ser uma mera apresentação de um produto. Afinal, as estratégias e objetivos devem ser demarcados no planejamento. Para um maior dinamismo, pode-se utilizar da interdisciplinaridade a fim de conectar conteúdos. Por exemplo: uma aula pela cidade com as disciplinas de geografia, história e artes. Além disso, consideramos também formas de acessibilidade, pois nem sempre as condições correspondem às expectativas de uma realidade social.


REFERÊNCIAS:


RAMOS, M. E. T.; SZLACHTA JUNIOR, A. M. Alunos percorrem as histórias narradas na cidade através do game Pokémon GO. Sæculum – Revista de História, [S. l.], n. 40, p. 377–401, 2019. DOI: 10.22478/ufpb.2317-6725.2019v0n40.40855. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/index.php/srh/article/view/40855. Acesso em: 5 jul. 2023.


INFORMAR A REFERÊNCIA COMPLETA PARA O LINK

https://www.geledes.org.br/pokemon-go-e-racismo-para-comunidade-negra-jogar-nos-eua-pode-colocar-suas-vidas-em-risco/



 

* Gabriela Soares é estudante de licenciatura em História e membro da equipe editoral do ImageH.




Para citar esse texto:


SOARES, Gabriela. A era dos History Games , 2023. Disponível em: www.imageh.com.br.

 


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