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Por que precisamos falar em Humanidades Digitais?

Formar equipes multidisciplinares para atuar em projetos coletivos ainda é desafio para instituições de ensino superior e básico.


Por Viviane Toraci*



Meu primeiro post aqui no imageH defendeu as Humanidades Digitais na escola.


Terminei o post falando que o tema me interessa, e desde então, confesso, fiquei pensando nisso.


Provocações estão surgindo de várias fontes: a insistência do texto da BNCC em relação ao uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação na prática docente, discussões acerca da Cultura Digital na escola, nosso cotidiano no multiHlab com o desenvolvimento de projetos coletivos envolvendo mestrandos, licenciandos e alunos do ensino médio.


Cabeça fervilhando, vamos tentar organizar as ideias.

Primeiro, por que ainda sinto a necessidade em falar “Humanidades Digitais”? Alguém já ouviu falar em “Matemática Digital” ou “Ciências Biológicas Digitais”? Acho que não.


O Manifesto das Humanidades Digitais reuniu as Ciências Humanas e Sociais, as Artes e as Letras dentro do grande grupo das Humanidades e demarcou um novo campo de estudos interessado nas formas de produção e circulação de conhecimentos em redes digitais. Seria uma estratégia de visibilização das preocupações de pesquisa que interessam aos pesquisadores das “Humanidades Digitais”.


Ao denominar, demarcamos territórios que poderão ser ampliados com processos de institucionalização, como a criação do Congresso Internacional em de Humanidades Digitais, que, ao perceber o volume de interesse, gerou a criação da Sociedade Brasileira de Humanidades Digitais, que vem fomentar a abertura de cursos de pós-graduação em Humanidades Digitais… E assim a roda dos investimentos em pesquisa e formação gira.

Temos, então, a mobilização de esforços focados em pensar e desenvolver formas de produção e circulação de conhecimentos em redes digitais. Mas para isso não é viável trabalhar isolado. É preciso formar equipes multidisciplinares compostas principalmente por uma área “proponente” (a História tem ganhado protagonismo) e profissionais dos campos da computação, da ciência da informação, da comunicação social e do design gráfico.


Desenvolver pesquisas e projetos no campo das Humanidades Digitais tem exigido, assim, um grande esforço também em pensar interesses em comum entre estes campos de saberes. E ainda convencer departamentos universitários, financiadores de pesquisa, professores e estudantes que podemos trabalhar em equipes multidisciplinares.

Agora faço outra pergunta que pode parecer óbvia: nossos ambientes profissionais já não funcionam nessa lógica de equipes multidisciplinares com uso intensivo de recursos digitais?


Pode ser que em algumas empresas privadas e instituições públicas o tipo de atividade desenvolvida tenha propiciado (ou quase exigido) uma prática profissional em que as pessoas reconhecem seus limites e buscam na integração entre as áreas o compartilhamento das responsabilidades, o que nos leva a dividir o ônus e o bônus.


Mas ainda vemos em nossos ambientes de formação tanto no Ensino Superior quanto na Educação Básica a permanência das fronteiras que não querem se tocar, não se permitem intersecções. Falo aqui das dificuldades em ter, por exemplo, estudantes de computação atuando como bolsistas em pesquisas desenvolvidas no Departamento de Ciências Sociais. Ou de professores escolares de geografia articulando projetos de georeferenciamento com seus colegas da matemática.

Não sou do tipo que alimenta pensamentos como “não há mais volta, a tecnologia está na nossa vida e precisamos aprender a lidar com ela”. Essa frase é bastante ouvida nos corredores das escolas e salas de professores.


Prefiro me imaginar como uma pessoa curiosa, que quer participar do jogo, que se esforça para entender as regras, aprender as estratégias e depois, quem sabe, conseguir subvertê-las.


Se as redes sociais configuram um novo espaço público de disputa de poder, como eu entro na disputa? Se o mundo que eu quero construir passa por ambientes digitais, como eu uso os “tijolos e cimentos” formados por códigos e algoritmos? Se eu não sei fazer, então quem pode me ajudar? Como convencer as pessoas que ao me ajudar também poderão se beneficiar e, ainda mais, poderão beneficiar uma coletividade maior?


Vixe, terminei esse texto com mais perguntas do que comecei. Acho que é porque não deu para terminar. A gente tá só começando.



*Viviane Toraci é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do multiHlab - Laboratório Multisuários em Humanidades.

 

Para citar esse texto:

TORACI, Viviane. Por que precisamos falar em Humanidades Digitais? ImageH, 2021. Disponível em: www.imageh.com.br

 


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