O que será o nosso futuro começa a ser construído hoje em nossos imaginários. E as imagens cumprem um importante papel neste processo.
Por Viviane Toraci*
Comecei a escrever esse post fazendo uma pesquisa rápida na internet. Escrevi no campo de busca: imagens do futuro. Como resultado, apareceram principalmente imagens de como são imaginadas as cidades do futuro, as relações homem-máquina, profissões do futuro com uso de realidade virtual e telas digitais. Isso poderia nos levar a crer que o futuro será permeado por construções humanas (máquinas, metais, concreto), diminuindo cada vez mais os espaços naturais.
Essa perspectiva não é nova. Um dado interessante é que no ano de 1900, a massa combinada de edificios e objetos industrializados equivalia a somente 3% da massa dos seres vivos presentes no planeta Terra. Em 2020, empatamos e superamos esse limite, tendo hoje uma massa maior de construções humanas do que massa natural. Como isso já era previsto, a destruição dos espaços naturais para ocupação por construções humanas, no ano 2000 os holandeses Paul Crutzen (ganhador do prêmio Nobel de química) e seu colega de trabalho Eugne Stoermer cunharam o termo ANTROPOCENO para designar esta nova era geológica e climática. O objetivo era que o nome da época geológica atual refletisse o impacto do homem na Terra. O Antropoceno teria começado com a Revolução Industrial, na Inglaterra do século XVIII, o que representaria um fator determinante para o crescimento das cidades e a substituição dos espaços naturais por espaços construídos pelo homem, com uma rápida diminuição da biodiversidade do planeta.
Mas e se eu não perguntar a internet, mas a você? Como você imagina que será o nosso futuro? Quais as imagens de futuro que estão na sua mente? Como elas foram construídas nos nossos imaginários? Falei um pouco sobre isso no post “Imagens de uma história do futuro” (https://www.imageh.com.br/post/imagens-de-uma-hist%C3%B3ria-do-futuro ), trazendo referências visuais da literatura, quadrinhos, arquitetura e cinema. Artistas, arquitetos, comunicadores são exemplos de profissionais que têm a capacidade de ocupar nosso imaginário com suas ideias e imagens. Até hoje, eles fizeram circular diferentes representações gráficas do que pensam que poderá ser o futuro, e ao fazê-lo dão início a realização material dessas ideias. Uso o termo “realização” na perspectiva do “tornar real”, ou seja, uma ideia antes circunscrita a uma mente, torna-se matéria presente no mundo perceptível, sendo agora acessível e compartilhável de modo a influenciar outras ideias e outras realizações. Então cuidado com o que você pensa, pode se tornar real.
Conscientes do poder das ideias, várias pessoas em todos os cantos do planeta estão tentando imaginar neste momento possibilidades de futuros menos sombrios para a humanidade na Terra. Seminários, cursos, livros, obras de arte, metodologias – todos preocupados em como agimos hoje e como podemos começar agora a realizar outras formas de estar no mundo. Uma ideia que atraiu minha atenção foi a de Futuros Protópicos (tradução livre), cunhada por Monika Bielskyte, que em seu blog do projeto Protopia Futures se apresenta como uma Pesquisadora de futuros/designer futurista, a qual está trabalhando para mover a imaginação popular da Distopia/Utopia para @ProtopiaFutures. Em seu texto de apresentação, destaca a importância do coletivo ao assumir o “nós” ao invés do “eu”. Também, chama a atenção para o uso do plural “futuros” de modo a não sucumbir aos binarismos, levando às alternativas de um futuro distópico ou utópico.
Na concepção da Protopia, posicionamos que não existe uma trajetória “futura” singular, mas sim um vasto escopo de muitos futuros alternativos. Ele é continuamente moldado não apenas por nossas ações, mas também por nossas inações e nossa apatia. Por isso, optamos conscientemente por usar o plural “futuros”, em vez do singular “futuro”, ao longo deste texto. Nosso trabalho é sempre destinado a envolver a pluralidade de possibilidades futuras – não um fio singular, mas sim o perímetro sempre mutável do provável, possível, plausível e, mais importante, desejável (Monika Bielskyte)
No movimento de imaginar futuros plausíveis, possíveis, desejáveis, participei de um trabalho coletivo que teve como objetivo produzir um vídeo tendo como tema futuros imaginados pela equipe. Foi interessante perceber como cada um, a partir das suas referências, preferências e medos, trouxe concepções tão diferentes, indo de mágico natural a distopia urbana, da imersão em telas a convivência com a decadência. O vídeo recebeu o título de ίσως, palavra grega para “talvez”.
A intenção deste post foi provocar o leitor e a leitora para imaginar futuros a partir de uma perspectiva não personalista, ou seja, não é o SEU futuro, mas o do planeta Terra e de todos que vivem nele. E fazer circular outras ideias, várias delas, ampliando as possibilidades. Imaginar para começar a tornar real.
*Viviane Toraci é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do multiHlab - Laboratório Multisuários em Humanidades.
Para citar esse texto:
TORACI, Viviane. Quais imagens temos do futuro?, 2022. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades
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