O Museu Reina Sofia disponibiliza ferramenta aberta de conhecimento como um arquivo de arquivos.
Por Viviane Toraci*
Usamos como imagem deste post uma fotografia da sala do Museu Reina Sofia (Madri/Espanha) onde está a obra original Guernica, quadro pintado por Pablo Picasso em 1937. É interessante reparar como se dá a experiência presencial de visita a obra no museu: as pessoas devem manter distância, sob a vigilância da equipe do museu, aglomerando-se em frente ao grande painel. Mesmo sob essas condições, ainda assim é algo singular e fenomenal estar em frente ao original.
Com uso de tecnologias digitais, a equipe do Reina Sofia imaginou outras formas de relacionar arte e museologia, entregando ao público um grande projeto baseado nos princípios das Humanidades Digitais. Repensar Guernica é um projeto composto por uma grande equipe multidisciplinar (como todo bom projeto no campo das Humanidades Digitais) que reuniu diferentes arquivos públicos e privados, de instituições e agências nacionais e internacionais para disponibilizar online uma ferramenta aberta de conhecimentos.
Ao visitar o site, entende-se a concepção como "arquivo de arquivos". A ideia é conectar diversas fontes documentais que fisicamente estão espalhadas pelo mundo, mas que conceitualmente mantém uma conexão com a história da obra ao longo de sua vida, entre cartas, ofícios, fotografias, áudios, matérias em jornais e sites. A referência pode ser uma data na cronologia, um ponto no quadro, um evento relacionado, ampliando-se as perspectivas a partir de um mesmo ponto de partida: Guernica. Suas conexões permitem analisar a história contemporânea e os processos de construção de seu imaginário.
Para concepção e execução do projeto, foi necessário um grande trabalho de articulação. Mas diferente de uma exposição física, não exigiu o empréstimo e deslocamento dos documentos. O intercâmbio está baseado em arquivos digitais, em conhecimento compartilhado e disponível abertamente. O resultado nos leva a Repensar Guernica, mas também a repensar as formas de geração e distribuição do conhecimento, que pode estar numa sala real, mas pode estar também em espaços digitais.
*Viviane Toraci é pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, professora do ProfSocio e coordenadora do multiHlab - Laboratório Multisuários em Humanidades.
Para citar esse texto:
TORACI, Viviane. Repensar Guernica: arte, museologia e humanidades digitais. ImageH, 2021. Disponível em: https://imagehmultihlab.wixsite.com/humanidades
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